terça-feira, 21 de dezembro de 2010

ANA I (Aquele olhar)

Chegou.


Vestia-se de modo simplório. Sua habitual calça jeans, blusa de manga azul e all star. Era seu uniforme diário.

Pensou nas coisas que deveria fazer, pensou até em se alegrar com algumas lembranças, uns sorrisos dispersos, abertos. Mas lembrou-se da louça, ora a louça!

Sua realidade dura demais não a dava muito tempo para relembrar.



Trocou de roupa. Com seu short curto, ligou o rádio no último volume na tentativa de afastar maus pensamentos – música renova as energias – dizia sempre, ora para os outros, ora para si mesma.

Louça lavada, hora de lipar o banheiro ouvindo Pagu, era um ritual.

Comida no fogo, era ágil. Parecia que em seguida tiraria o pai da forca, ou que tinha 3 crianças para cuidar. Mas não tinha, não tinha ninguém para cuidar, só si mesma, e ninguém que a cuidasse.



Não era sozinha, mas era o que parecia a maior parte do tempo.  Após teminar seus primeiros afazeres, pensou em seguir com os próximos. Precisava estudar. Então reiniciou seu ritual diário. Forrou o chão, e o encheu de travesseiros, esparramou os livros. Pensou no que deveria estudar. Biologia. Embora o que precisasse no momento era de uma boa literatura. Clarice, Drummond? Qualquer coisa a céculas, teorias e relações. Sua vida andava com relações desarmônicas por demasiado,  canibalismo diário de si mesma.



Deitou -se em meio aos livros com desânimo. Pensou que as coisas poderiam ser um pouco diferentes ou pelo menos mais parecidas com antes, fechou os olhos e começou a relembrar...




Era frio, verde. Ela estava linda, com poucas vezes. Vestia uma blusa preta, meia calça e um sobretudo que acentuava sua silhueta longa e esquia mas que a deixava com um ar europeu que todos a elogiam, mal percebia seu sorriso de canto de boca ao ouvir que parecia uma francesa. Foi um tarde linda, e ela sabia disso.



Sorria de novo, agora um pouco mais triste, mas afinal, nem fazia tanto tempo assim. Pensou no quanto uma pessoa muda, mesmo em pouco tempo cronológico, é uma espécie de tempo de aura, de renovação de energia, mas não queria pensar muito em tempo, não no tempo que tinha passado, contentou-se em relembrar.



Teleportou-se exatamente para o momento em que alguém arrumava seu cachecol de um jeito diferente e dizia o quanto a cor de seu cabelo acentava com o mel de seus olhos. Lojas, sorrisos, gestos, conversas, naquele momento ela tinha esquecido-se de tudo, tudo, tudo. E tudo era muito. Foi quando chegou finalmente, ao momento em que mais que sua mente seu coração queriam reviver e (re)sentir, (tre) sentir. O olhar.



Não fora sempre observadora de olhares, por diversas vezes os ignorava, mas com o tempo como tudo que muda, seus sentimentos em relação à olhares também mudou.

Um olhar tocava-a tão profundo como uma música, um beijo, uma sensação, transpassava um toque físico, um sorriso, porque os lábios mentem, tem gente que sorri bonito mesmo triste, mas os olhos não, esses não sabem mentir pois são o reflexo da alma, e a alma para ela era tudo, e se tudo era muito, a alma era muito mais.



Olhou mesmo de olhos fechados aqueles olhos de novo, e não hesitou em sorrir novamente.

Eram olhos ávidos, olhando a multidão, até encontrar os seus, e então perder-se um dentro do outro, por instantes, por milésimos de segundo, por... E sentiu de novo seu corpo estremecer, um frio diferente, frio bom.



Se existe destino a culpa foi exatamente dele, porque só a ele caberia se encarregar de criar a cena de reencontro ente uma amiga e ela ao lado do seu-garoto-de-olhos-tocantes.



Cumprida as formalidades, foi a ele que seus olhos teimaram em procurar, localizar, e foi meio descrente que ela olhou para o lado, e lá estava ele, olhando-a de frente, profundo.



Foi dele um dos poucos olhares que a acanharam, ora não fazia muito seu estilo acanhar-se, mas ele era diferente, olhava bonito. E foi após um vulto de um pessoa passando em sua frente, entre vozes conhecidas que ela percebeu, não eram só os olhos, ele era lindo. Lindo com poucos, portador de uma beleza que hipnotiza, daquelas em que se olha primeiro os olhos e perde-se sei lá quanto tempo admirando-os, sem perceber, sem se preocupar com o que há em volta, cor, roupa, cabelo, ou qualquer outra coisa, é só O olhar, e se for recíproco, não necessita-se de mais nada, de contar, de lembrar, só de sentir. É coisa de alma.



- Sabe com é isso?

- Acho que agora sei.

- Ah então Ana, foi meio que isso, eram umas luzes azuis fluorescentes.



Foi então que Ana percebeu que estavam falando de luzes mas não das mesmas luzes. A Luz que refletia no rosto de Ana era diferente de qualquer luz fluorescente existente. Seus olhos já não a obedeciam mais, só queria saber de procurar os outros olhos e descobrir o que eles tinham, qual era o segredo, a história, os medos, as verdades que se escondiam atrás das córneas e da hereditariedade.



E foi pensando no segredo que sorriu, e que viu sorrir para ela outra boca. Esquivou-se. Estaria dando bandeira? Mas e daí . Seus olhos precisavam daquele momento pra lembrar-se quando os problemas diários a atormentassem. Só queria olhá-los até quando pudesse, até que se perdessem.



- O que você tanto olha?

- Olhos.

-Como?



E foi entre não explicações, que ele a olhou pela penúltima vez e sorriu de canto de boca, ela atônita só sabia olhar, nem sorrir, por que se sorrisse talvez mentisse um pouco, não conseguia nem ser mais cordial, só olhar, olhar e sentir, e foi assim que ele ia afastando-se e ela sentindo a falta, a distância, a perda. Antes de dobrar a esquina ele a olhou pela última vez.



- Você está estranha hoje.

- Acho que preciso de roupas novas.




Ao abrir os olhos sorriu mais uma vez, olhou para os livros e para sua roupa que em nada lembrava a tarde mágica que vivera. Acordada, lúcida de suas lembranças, sabia que tinha que fazer algo em relação à sua vida depois de pensar em tudo que um dia a fez tão feliz como simples fleches que a davam o luxo de fugir de seu cárcere- cotidiano .


   Foi limpar o banheiro.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Julieta

     Vai Julieta, sai desse bode.
  
       Vai passear,  namorar, sair, dançar se divertir.  Entra um pouco na internet, vai ao cinema,  toma um banho de mar.  Faz alguma coisa Julieta!  Garota bonita, fica aí olhando para o nada, conversando com plantas. Vive Julieta, vive de verdade!
    Certo dia Julieta disse :
"Mulher estilosa é aquela que põe seu melhor vestido,  melhor perfume, seu melhor batom e no jantar à luz de velas, pede o cara em casamento e racha a conta".
       Julieta não queria ser mulher, queria ser mulher estilosa.  Mas cadê coragem, cadê? Julieta só sabia era falar com seres inanimados, se atrapalhava um pouco com gente.
 "Gente é estranha!" - dizia Julieta, como se fosse adiantar alguma coisa.
        Vai Julieta,  levanta dessa cama, troca esse pijama.
  Julieta não é princesa, nunca foi.  E nem quer ser.  Quer? Julieta não sabe, sabe não.  Julieta queria um Romeu. Mas não romeu careta, um Romeu despojado.
   Saí Julieta, vai ver a luz do sol,  passa um batom nesses lábios grossos, solta esses cachos, se abre para o mundo menina!
E Julieta foi.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O encontro perfeito

   Choveria.
Eu estaria ensopada esperando o ônibus para um lugar qualquer.
Ele estaria no ônibus, desconexo do mundo, olhando a paisagem.
Eu entraria um tanto quanto decepcionada com o dia, molhada, despenteada, simples.
Sentaria ao seu lado.

Ele olharia-me rapidamente.
Eu, preocuparia-me em não molhar-lhe.
Ele não se incomodaria com as gotas geladas do meu corpo e meus cachos tocando-o, continuaria sua leitura silenciosa.
Eu leria Clarice, ele, Shaskepeare.

-Gosto muito deste livro dela.
- Eu adoro Shaskepeare.
- É tão...
-É.

Conversaríamos sobre a chuva, sobre dia, o percurso, os problemas do mundo.
E demoraria para o nosso ponto chegar.
Nada de contos de fadas, telefones ou contatos símbolos da modernidade.

-Aceita casar-te comigo? ele.
- Como? eu.
Disse Romeu à Julieta. Diria ele, voltando à leitura.

- Ah!    Diria eu sem malícia, pensando  no quanto era bom estar molhada num banco de ônibus.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Paredes, caminhos , desencontros

    Essas paredes descascadas, frias, só aumentam essa sensação de solidão absoluta, é o vazio de lembrar daquela tarde que não pode mais voltar. E se eu olho por alguns minutos para o lado, fixo para essas paredes verdes, elas tomam dimensões enormes e levantam-se contra mim querendo devorar-me. Através delas eu vejo teus olhos negros, ávidos, ao me olhar, ora secando meus lábios, ora querendo decifrar-me através das expressões dos meus- somos olhos, fomos olhos apaixonados um dia. Quando me lembro de você, sorrio, mesmo que o meu dia não tenha sido tão bom ou feliz, mas sorrio ao ver o quanto tínhamos em comum, é cômico agora. O sorriso não dura muito, logo, penso que todo esse meu sorriso não deixa de ser forçado, é cinismo. Então me entristeço, no desconserto dos meus pensamentos. Quero pensar em comida, viagens, garotos, mas só o que consigo pensar é no rio, no verde- estou meio obcecada por verde, antes mesmo de te conhecer, o verde já me fascinava, sinto que ele quer me dizer alguma coisa, tenho o meu preferido, escuro, por ser tão exigente, nenhum outro tom de  me agrada , nem um outro tipo  me atrai tanto quanto você. Mas a culpa não é bem nossa, são questões demográficas, etárias, ou Ele - o verde. O problema não é conosco, somos pessoas certas o momento é que é errado, e eu só posso sentir muito, você também. Eu gostava de te ouvir falar, fala mansa, vocabulário enrustido, gostava da sua idade, sobretudo da sua idade e do jeito que você me olhava,  fitava-me como se eu fosse uma criança, como se quisesse me proteger. Desculpa por eu não ser tal infantil assim, tão angelical. Nós nos fantasiamos muito. Sempre fomos opostos, suas mãos quentes e as minhas frias, seu sorvete de flocos,o meu com cobertura de chocolate, nos completávamos no pequenos detalhes, nossos gostos musicais, por filmese comidas variavam, nossos desejos e planos de vida também, eu era livre. Você sempre preso demais. Seu beijo era respeitoso, com carinho, talvez esse fosse um dos problemas ou pelo menos passou a ser depois de eu não mais fantasiar, aí a coisa muda: eu, pé no chão demais e você querendo sonhar. Paramos de caminhar juntos, agora, eu gostava de vê-lo pelos caminhos da vida. Eu, mesmo sabendo o que queria sempre fui mais insegura, você não, parece que a vida sem roteiro te fazia bem. Parei de fazer planos com você e você comigo, naturalmente, assim como quando você descobriu que eu só tomava leite para te agradar e que às vezes eu o beijava pensando na roupa que eu iria usar no dia seguinte, eu parei de me perder, e nessas perdas e devaneios, comecei a me achar, e te perder. Nos desencontramos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Amor Platônico


Tudo começa com olhares, sorrisos ou simples conversas.

Os olhares podem não ser necessariamente para você, os sorrisos com os amigos, ou por outro motivo qualquer que não seja você e as conversas podem ser por orkut, msn, twitter, ou qualquer outra página de ralacionamento.

Logo, você começa a idealizar uma vida ao lado dessa pessoa, parece incrível! Mas não se iluda, é doloroso!

E que tal, se ele/ela morar longe pra caramba ? A chance de você conhecê -lo pessoalmente for 01 % e pior, se ele estiver a fim de uma outra pessoa que mora no mesmo bairro que ele ou estuda na mesma faculdade que ele?

Melhor! Ah..porque ainda pode melhorar, se ele te dá maior papo no msn, no orkut, adora você, te acha engraçada e autêntica e sempre te faz elogios maravilhosos como 'Eu adoro você sabia? Já é uma grande amiga pra mim", isso ele diz claro quando você acaba de ajudá-lo com a tal menina por quem ele está apaixonado...


DROGA DE AMOR PLATÔNICO!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

As palavras


As palavras tem mexido muito comigo ultimamente. Ultimamente? Não, na verdade desde que aprendi a lê-las, entendê- las e agora olha só...Posso até senti -las.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Um hippie em minha vida


Ontem eu conheci um hippie, ele era incrível, estava bêbado e parecia já fazer algum tempo que não tomava banho. Mas era um homem supersábio, educado e legal que de alguma forma me cativou. Ele era hippie mesmo do tipo que ouve Raul Seixas, e falava coisas do tipo: " maluco, bicho, babilônia, marmota, jóia e podes crer" Ai bicho adorei conhecê-lo, podes crer! Ficamos amigos.