terça-feira, 21 de setembro de 2010

Paredes, caminhos , desencontros

    Essas paredes descascadas, frias, só aumentam essa sensação de solidão absoluta, é o vazio de lembrar daquela tarde que não pode mais voltar. E se eu olho por alguns minutos para o lado, fixo para essas paredes verdes, elas tomam dimensões enormes e levantam-se contra mim querendo devorar-me. Através delas eu vejo teus olhos negros, ávidos, ao me olhar, ora secando meus lábios, ora querendo decifrar-me através das expressões dos meus- somos olhos, fomos olhos apaixonados um dia. Quando me lembro de você, sorrio, mesmo que o meu dia não tenha sido tão bom ou feliz, mas sorrio ao ver o quanto tínhamos em comum, é cômico agora. O sorriso não dura muito, logo, penso que todo esse meu sorriso não deixa de ser forçado, é cinismo. Então me entristeço, no desconserto dos meus pensamentos. Quero pensar em comida, viagens, garotos, mas só o que consigo pensar é no rio, no verde- estou meio obcecada por verde, antes mesmo de te conhecer, o verde já me fascinava, sinto que ele quer me dizer alguma coisa, tenho o meu preferido, escuro, por ser tão exigente, nenhum outro tom de  me agrada , nem um outro tipo  me atrai tanto quanto você. Mas a culpa não é bem nossa, são questões demográficas, etárias, ou Ele - o verde. O problema não é conosco, somos pessoas certas o momento é que é errado, e eu só posso sentir muito, você também. Eu gostava de te ouvir falar, fala mansa, vocabulário enrustido, gostava da sua idade, sobretudo da sua idade e do jeito que você me olhava,  fitava-me como se eu fosse uma criança, como se quisesse me proteger. Desculpa por eu não ser tal infantil assim, tão angelical. Nós nos fantasiamos muito. Sempre fomos opostos, suas mãos quentes e as minhas frias, seu sorvete de flocos,o meu com cobertura de chocolate, nos completávamos no pequenos detalhes, nossos gostos musicais, por filmese comidas variavam, nossos desejos e planos de vida também, eu era livre. Você sempre preso demais. Seu beijo era respeitoso, com carinho, talvez esse fosse um dos problemas ou pelo menos passou a ser depois de eu não mais fantasiar, aí a coisa muda: eu, pé no chão demais e você querendo sonhar. Paramos de caminhar juntos, agora, eu gostava de vê-lo pelos caminhos da vida. Eu, mesmo sabendo o que queria sempre fui mais insegura, você não, parece que a vida sem roteiro te fazia bem. Parei de fazer planos com você e você comigo, naturalmente, assim como quando você descobriu que eu só tomava leite para te agradar e que às vezes eu o beijava pensando na roupa que eu iria usar no dia seguinte, eu parei de me perder, e nessas perdas e devaneios, comecei a me achar, e te perder. Nos desencontramos.

5 comentários:

  1. Que dia sai o seu livro? :-P

    Serei o primeiro a comprar

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  2. Não quero comentar neste texto. Não posso.
    Não tenho a capacidade sobrenatural de criticar um texto de tal qualidade.
    Queria ter, mas não tenho. Posso lhe dizer uma coisa: Enquanto eu o lia eu me desencontrei de mim mesmo e parei em algum lugar onde pessoas de qualidade se reúnem para escrever, você estava lá.

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  3. muito bom, interessante!!!...não concordo com esse paulo victo, quando sair seu livro eu q serei o primero a comprar.rs

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  4. Eu gosto de verde :)
    Hei, veja pelo lado bom, pelo menos vc passa a madruga lendo coisas que servem para você. eu tou fudido.. enfim..gostei do blog.. te seguindo..
    =**

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  5. Muiito perfeito! Você escreve super bem... Dá pra sentir tudo isso!!

    Amoo o blog
    Bjoos

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